História

A FUNDAÇÃO E AS TEORIAS

Existem duas teorias em relação à sua fundação:
A primeira teoria diz os irmãos Leme adquiriram da Condessa de Vimieiro glebas de terra ao norte da Vila de Taubaté, bem á margem direita do Rio Paraíba. Aos 12 de Agosto de 1672, Antônio Bicudo Leme e Braz Esteves Leme, iniciaram a construção da capela em honra a São José, fundaram a povoação de São José de Pindamonhangaba. Essa capela foi edificada no alto de uma colina, exatamente onde hoje se localiza a Praça da República Largo do Quartel). Baseado nesta teoria, em 07/12/53 o então Prefeito Dr. Caio Gomes Figueiredo oficializou pela Lei n° 197 a data de 12 de Agosto de 1672 como a data da Fundação de Pindamonhangaba, tendo como Fundadores: , Antônio Bicudo Leme e Braz Esteves Leme.

A segunda teoria diz que no início do Século XVII sesmarias vão sendo concedidas na zona de Taubaté – Pindamonhangaba – Guaratinguetá, destacando-se uma que é concedida em 17/05/1649, ao Capitão João do Prado Martins, na paragem chamada Pindamonhangaba. De acordo com a respectiva carta de doação, esse povoador, vindo de São Paulo, com a família e agregados já estava de posse de suas terras, naquela paragem, desde o dia 22 de Julho de 1643, que é considerada a data de Fundação de Pindamonhangaba, pois o sítio então aberto por João do Prado se situava no rocio mesmo da futura vila e cidade de nossos dias. A partir daí, da paragem à margem direita do rio Paraíba, forma-se um bairro dependente de Taubaté, para onde vão afluindo novos povoadores e moradores. Começa a funcionar no bairro uma igreja, de porte pequeno, cujo orago é Nossa Senhora do Bom Sucesso. A sua ereção é devida ao padre João de Faria Fialho, considerado o Fundador de Pindamonhangaba.

Por existirem dúvidas quanto à Fundação de Pindamonhangaba, em 09/03/73 o Prefeito Dr. João Bosco Nogueira, faz saber a Câmara Municipal de Pindamonhangaba, aprova e ele promulga a seguinte:

Lei Municipal n° 1336 de 09 de março de 1973:

Art. 1° – Fica revogada a lei nº 197, de 7 de Dezembro de 1953, que oficializou data da fundação de Pindamonhangaba.
Art. 2° – A data de 10 de Julho de 1705, que é a da Emancipação Política de Pindamonhangaba, continuará sendo comemorada como a data magna do município , até que a da Fundação seja descoberta de forma documental.
EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
No início do século XVIII, por volta de 1704, a pequena Freguesia de São José crescia intensamente e já era intenção de seus moradores separa-la da Vila de Taubaté, a qual pertencia. Freqüentemente os maiorais do lugar se reuniam para trocar idéias sobre a maneira de torna-la independente, elevando-a à categoria de Vila.

Para alimentar ainda mais esse desejo nato de liberdade, quis o destino que por aqui passasse o Desembargador João Saraiva de Carvalho, Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca de São Paulo. E assim, à custa de rogos que lhe foram feitos e de “valiosos presentes” que lhe foram ofertados, o Desembargador resolveu o caso da noite para o dia. A freguesia foi elevada à Vila por obra e graça de um ato assinado por João Saraiva de Carvalho. Esta resolução provocou os protestos das autoridades taubateanas e elas resolveram comunicar o fato a Sua Majestade D. Pedro II, El Rei de Portugal.

Era preciso anular a ilegalidade cometida pelo Desembargador. Estando o Rei doente, coube à Rainha Dona Catarina resolver aquele delicado caso. No entanto, considerando, talvez, a humildade dos representantes da nova Vila, que afirmavam estar cientes do erro cometido e pediam perdão, a Rainha acabou por lhes desculpar o erro.

Mas não passou muito tempo e o povo da Freguesia elevada à Vila ilegalmente teve uma grata surpresa. Num gesto magnânimo e inteligente, a Rainha, depois de haver anulado a criação da Vila de São José, havia mandado criar a Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pindamonhangaba.

A boa nova alegrou duplamente os habitantes da então freguesia de Pindamonhangaba, porque os livrou das penas a que estavam sujeitos por terem cometido o “grande crime” de eleva-la à Vila e por satisfazer suas justas aspirações.

Em 03 de Abril de 1849 a Vila Real de Pindamonhangaba é elevada à cidade, por Lei Provincial, sancionada pelo Dr. V. Pires da Mota – Presidente da Província.

Em 07 de Maio de 1877 o termo de Pindamonhangaba é elevado a cabeça de Comarca , por Lei n° 27, desse dia.

Pela participação de seus filhos na maioria dos feitos históricos nacionais e pela opulência advinda da cultura do café, a cidade recebeu o codinome de “Princesa do Norte”.

MOREIRA CÉSAR

Dados, relevo e características.

Com seu núcleo distante 13 quilômetros da sede do município de Pindamonhangaba, Moreira César é um dos maiores distritos do Estado de São Paulo. São 234 km2 de área, correspondendo a aproximadamente 1/3 do território do município. Atualmente conta com uma população de 40.000 habitantes distribuídos por 30 localidades, entre bairros e loteamentos residenciais.

A extensa planície onde se situa é emoldurada de um lado pela serra do Quebra Cangalha, onde fica sua extremidade sul, na região conhecida por “Macuco”; do outro lado, pela serra da Mantiqueira, onde se localiza sua extremidade norte, nas proximidades do Pico do Itapeva. Serpenteando entre as duas serras corre, majestosamente, o lendário rio Paraíba, em cujas margens no século XVII aportaram os pioneiros da colonização. O contraste entre as duas serras e planície, empresta ao Distrito de Moreira César uma magnífica e singular paisagem que encanta os visitantes que passam pelo Vale do Paraíba.

Vila Taipas

Em 1817, numa expedição de reconhecimento, os viajantes Spix e Martius, ao passarem por Pindamonhangaba, relataram que haviam pernoitado em uma “venda” (taberna, botequim ou armazém) denominada “Taipas”, que ficava à beira do caminho ou “estrada cavaleira” que ligava a província (estado) do Rio de Janeiro a São Paulo. A venda das Taipas se constitua em um ponto de parada que servia também de pousada para os viajantes.

Contam que em sua passagem por Pindamonhangaba, em 1822, a caminho de São Paulo, naquela célebre cavalgada que resultou na independência do Brasil, o imperador Pedro I teria parado para descansar sob uma frondosa árvore, a “figueira das Taipas”. Quase dois séculos depois, permanece ainda dando sombra à beira da estrada a mesma figueira. Testemunha da história, ela sobrevive como quem aguarda os novos acontecimentos. O local onde essa árvore se encontra, experimentou um período de muito movimento na década de 50, quando ali funcionou o restaurante do luso radicado em Pindamonhangaba, senhor Joaquim, mais conhecido como “Joaquim Português”. Seu restaurante era freqüentado inclusive pelos políticos e pessoas influentes que iam degustar especialidades da culinária portuguesa (“cabrito ao forno”, “bacalhau à portuguesa” etc.).

No bairro de Taipas no princípio do século 20, viviam muitas famílias como a dos Teberga, Carvalho, Américo, Cortez e Serino. Atualmente abriga principalmente famílias oriundas da antiga fazenda Sapucaia, que já foi propriedade da Companhia Agrícola Cícero Prado. No seu auge, a “Cícero Prado” empregava um grande número de pessoas residentes nas suas lavouras.

A fazenda Sapucaia também pertenceu à empresa agro-industrial do grupo japonês Fujizaki-Tozan e experimentou período altamente produtivo sob a direção do agricultor Ryoiti Yassuda e sua esposa, dona Shiduca (precursores na imigração japonesa para o Brasil). A família Ryoiti adotou Pindamonhangaba como sua cidade na nova pátria. Dos filhos do casal Ryoiti e Shiduca, todos pindamonhangabenses, o primogênito, Fábio foi o primeiro nipo-brasileiro a assumir uma pasta no ministério brasileiro, se tornando ministro da Indústria e Comércio. Outro de seus filhos, o Eduardo, foi o primeiro nipo-brasileiro a assumir uma pasta na secretaria de Estado, foi secretário de Obras. Também se destacaram o Renato (cirurgião dentista e vereador em Pindamonhangaba), o Nelson (médico) e as professoras Casuhê e Elisa.

Coruputuba

O historiador Waldomiro Benedito de Abreu (1914/1999), em seu livro Pindamonhangaba Tempo & Face, referindo-se à palavra Coruputuba, explica que “se trata de topônimo puramente pindense, originado de palavra semelhante, não consta na língua Tupi”.

Waldomiro cita documentos históricos, de 1650, onde aquela localidade aparece grafada de diferentes formas: Curupaytuba” e “Curupahitiba”. O significado da palavra é pelo autor assim explicado: Curu-pe-y-tuba, curu = seixos; pe = simples elemento afixal; y = rio; tuiba ou tiba = abundância, multidão. Que, no sentido geral seria: rio de seixal, cheio de seixos, alusão ao ribeirão de Coruputuba que devia possuir seixos e cascalhos.

“Nos papéis antigos aparecem, freqüentemente, a posse de terras em Curupaitiba, sendo a paragem uma das mais antigas sesmarias, terras cedidas pelos reis de Portugal e donatários de capitanias para o cultivo e a conseqüente povoação do lugar”, esclarece o historiador, acrescentando que “o local seria a constante do inventário do paulista Antonio Bicudo Leme” e que “toda a parentada do mesmo, tanto do lado paterno como do lado materno, teve sítios e morou em Coruputuba”.

Ainda de acordo com o historiador, um dos mais importantes desbravadores de sertões, o coronel Salvador Fernandes Furtado, nasceu em Coruputuba. “Não tem conta as minas que descobriu e as capelas que este bandeirante pindamonhangabense edificou”.

Teteqüera

Outro bairro histórico da região do distrito é o Teteqüera. Também segundo o historiador Waldomiro de Abreu a palavra é encontrada em papéis antigos grafada em formas diferentes; tieteqüera, tietepoera, tietepoeira, tietepuera, tietepoeiro e tietequera (as formas “eira”, “eiro” são influência do português). No Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa encontramos “tetecoera” (brasileiro), antigo leito de um rio, já coberto de vegetação, fazendo alguns dicionários menção especial ao rio Paraíba. Ante a significação dicionarizada, Waldomiro chegou a um hipotético: ty-etê-cuera = o rio verdadeiro, antigo.

Segundo o historiador Athayde Marcondes: “Bairro situado a três léguas da cidade, à margem esquerda do Paraíba. Foi nesse bairro que se fundou a primeira fazenda de café, em princípios do século XIX, sendo seu proprietário o capitão Miguel de Godoy Moreira”.

Origem do povoado

A área hoje considerada a região central de Moreira César se formou a partir da capela de Santa Cruz, construída em terras doadas pelo capitão Claro Monteiro César, no mesmo local onde hoje existe a matriz de São Vicente de Paulo. A localidade era então conhecida como Barranco Alto, sendo o ponto de partida para quem tinha como destino o centro de Pindamonhangaba, passando por dentro da fazenda Coruputuba.

O nome primitivo da região de Moreira César era “Nhambuí”, que na língua Tupi-guarani significa “a noz que arrebenta”. Os indígenas se referiam ao fruto da mamoneira, a mamona, que, quando seco se arrebenta. Nos tempos da colonização as mamoneiras eram a vegetações mais comum do lugar.

A importância do café

Atraído pelas férteis terras do Nhambuí, no início do ciclo do café, o capitão Claro Monteiro César estabeleceu grandes lavouras de café, produto este que durante um grande período foi a mais importante fonte de divisas para o Brasil, sendo por isso chamado de “ouro verde”. A produção do café gerou uma grade riqueza para Pindamonhangaba. A exuberância desse período pode ser imaginada contemplando as edificações que restaram do século XIX: o Palacete Visconde das Palmeiras (atual sede do Museu Histórico e Pedagógico D.Pedro I e Dona Leopoldina), o Palacete 10 de Julho (Palacete Barão do Itapeva), antiga sede da Prefeitura e o Palacete Tiradentes, sede da Câmara Municipal.

Inicialmente o café produzido no Nhambuí era conduzido em lombo de burro, carroças ou carros de boi por um caminho que passava onde hoje é o bairro do Feital. O destino era a estação de Pindamonhangaba, para ser embarcado nos trens da Estrada de Ferro São Paulo/Rio de Janeiro, inaugurada em 18 de janeiro de 1877. Três anos depois foi instalado o posto telegráfico de Nhambuí, um avanço muito festejado na época, pois se estabelecia assim a primeira linha de comunicação rápida (para aqueles tempos).

Aos 7 de janeiro de 1898 surgiu a “Estação Moreira César”, numa justa homenagem ao coronel Antonio Moreira César, vitimado no comando das tropas governamentais durante a Campanha de Canudos, nos sertões da Bahia. Essa estação foi toda confeccionada em madeira nobre denominada pinho de riga, veio totalmente pronta da França para ser montada em Moreira César. A partir de sua inauguração, passou a ser o embarcadouro do café colhido nas redondezas para ser transportado, principalmente, aos longínquos países europeus, onde era muito apreciado, tendo conquistado vários prêmios pela sua qualidade na Suíça.

O patrono do Distrito – Coronel Antonio Moreira Cesar

Antonio Moreira César era seu nome, coronel a sua patente. Aos sete de julho de 1.850 nasce em Pindamonhangaba o menino Antonio Moreira César. Teve uma infância difícil e sofrida, devido ao fato de ser fruto de uma relação ilegítima, circunstância esta que ele próprio não teve a menor culpa, ao contrário, teria sido sim, vitima. Antonio Moreira César era filho do reverendo Antonio Moreira César de Almeida e de D. Francisca Corrêa de Toledo. Ao invés de tornar-se uma figura retraída e obscura em decorrência da discriminação e preconceito que sofreu logo no inicio de sua vida, pelo contrário, sempre buscou demonstrar ao longo de toda a sua existência, o seu inestimável valor. Deixou sua terra natal ainda muito jovem, para se projetar no cenário nacional. Aos 19 anos ingressou no Exercito Brasileiro, como voluntário, matriculando-se no curso preparatório no Rio de Janeiro. Aos 29 anos, após cinco anos de estudos confirmou-se na patente de Alferes. Prosseguindo na sua meteórica carreira militar, recebeu a patente de tenente por merecimento, Capitão por estudos, Major e Tenente Coronel, por merecimento, sendo alçado a patente de Coronel aos 18 de março de 1.892 aos quarenta e dois anos. Possuía graduação no curso de Estado Maior de Primeira Classe, sendo considerado na sua época o maior ESPECIALISTA DA FORÇA TERRESTRE DO EXERCITO BRASILEIRO, em táticas de infantaria.

Ele foi o oficial mais celebrado do Exército Brasileiro, a quem se atribuía fidelidade e bravura sem igual. Destacado militar e grande expressão política de sua época, era considerado o provável sucessor do Marechal Floriano Peixoto, presidente da República naquele período, se tivesse logrado êxito em Canudos.

Durante suas visitas de quartel em quartel, sua figura era envolta em murmúrios de admiração e comentários, sobre as façanhas por ele praticadas com lances de heroísmo. Sua maneira cortês e educada se fazia presente mesmo nos momentos de crise. Agradava pela maneira simples e amistosa com que em geral tratava seus subordinados e superiores. Entretanto, quando se impunha a contenda sua imagem se transfigurava. Tomado de assombrosa valentia transformava-se num campeador capaz de brilhar em qualquer missão que lhe fosse confiada. Segundo seus companheiros de caserna, tratava-se de um líder “tenaz, paciente, dedicado, leal, impávido e ambicioso”.

Comandou unidades do Exercito brasileiro em várias regiões do território nacional. Em Cáceres, no Mato Grosso e em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, ficou conhecido como ardoroso republicano, homem de tropa de linha, enérgico, destemido e disciplinador comandante.

Meticuloso e detalhista atuou nas comissões instaladas para fazer as revisões necessárias promovendo a modernização dos regulamentos, legislações e códigos do Exercito, com o objetivo de atualizá-las de acordo com os princípios democráticos da nova forma de governo. Pela sua atuação nessas comissões recebeu elogios oficiais, destacando-se a sua “ inteligência, presteza, zelo e extrema dedicação à sua classe”. O governo sabia que podia contar com aquele que seria o “homem talhado para as crises perigosas e para as grandes temeridades”.

Em 1.891, aos 41 anos, foi designado para Aracaju, no intuito de conter a animosidade estabelecida entre a sociedade e o governo local, fiel a causa republicana.

Sua habilidosa atuação foi vital para que o entendimento chegasse rapidamente a bom termo. Em seguida foi deslocado para Salvador na Bahia com a finalidade de conter rebeldes federalistas. Devido a sua enérgica intervenção, foi alçado ao posto de chefe de Policia até a normalização da situação.

Para Niterói segue depois, incumbido com a missão de restabelecer a ordem, devido aos constantes atritos entre o corpo policial e o governo fiel à causa republicana. Sua oportuna atuação novamente lhe rendeu elogios oficiais pela rápida solução do problema. Em 1.894, aos 44 anos, foi nomeado interventor, exercendo a função de Governador de Santa Catarina, com o objetivo de pacificar o Estado. Situação dominada com grande derramamento de sangue, a capital chamada até então de Nossa Senhora do Desterro, passa a se denominar Florianópolis numa homenagem ao Marechal Floriano Peixoto.

Moreira César permaneceu em Santa Catarina no comando de sua unidade o 7º Batalhão de Infantaria até o final de 1.896. No início do ano de 1.897, aos 46 anos, Moreira César deixa o comando do 7º Batalhão de Infantaria para comandar uma brigada, a terceira expedição enviada a Canudos na Bahia. Devido ao insucesso, das duas outras expedições anteriormente enviadas para combater Antonio Conselheiro, a escolha teria que recair sobre o coronel Moreira César. Tombou mortalmente ferido, aos 46 anos, no dia 4 de março de 1.897, durante a feroz batalha de Canudos. Deixou o mundo terreno para ingressar na posteridade. Honrou o uniforme e o comando que exercia, deixou a fama de ser duro e implacável com o inimigo. Ninguém se fanatizou mais pelos ideais republicanos, que o cidadão Antonio Moreira César, oferecendo em holocausto seu próprio sangue, sua própria vida. Foi o símbolo, o esteio, a viga mestre do regime naqueles conturbados primeiros anos da República.

Tão logo foi noticiada a sua morte a comoção pública se instalou. As redações dos jornais foram inundadas por incontáveis cartas, telegramas, homenagens e manifestações diversas. Vindas de todas as partes do país, expressavam sentimentos de gratidão, respeito e admiração, hipotecando carinho e emoção por aquele que foi, incontestavelmente, um dos vultos mais importantes da primeira fase Republicana, o Coronel de Infantaria do Exército Brasileiro, Antonio Moreira César.

Inúmeras ruas e logradouros, de norte a sul do Brasil, foram nomeadas em homenagem ao ilustre pindamonhangabense, que dedicou toda a sua vida, a um projeto militar. Na nossa cidade, a atual av. Jorge Tibiriçá, anteriormente tinha o nome do Coronel Antonio Moreira César. O pujante Distrito de Moreira César é hoje a região de maior desenvolvimento no nosso município, concentrando grande parte do parque empresarial local.

Coronel Antonio Moreira Cesar, admirado por todos, colecionador de grandes vitórias, figura proeminente, entretanto ganhou inimigos e detratores os quais procuraram minimizar seus méritos, diminuir o brilho de seus feitos, para deslustrar a sua patente.

Em sua obra “Os Sertões”, um dos maiores clássicos da literatura brasileira, Euclídes da Cunha não foi benevolente ao descrever Moreira César. Sabe-se, contudo, que Euclides da Cunha, na sua juventude, foi expulso da Escola Militar, por desagravo, ao atirar seu espadachim aos pés do Ministro da Guerra. Esse fato provavelmente foi determinante quanto à antipatia, que este sempre reservou aos militares ao longo de sua vida.

Já o famoso escritor Peruano Mario Vargas Llosa em sua obra “A GUERRA DO FIM DO MUNDO”, faz referencias elogiosas quanto ao idealismo militar de Moreira César. Há também a obra intitulada “O TREME TERRA”, do escritor baiano Oleone Coelho Fontes. O autor revela que, inicialmente, iria versar sobre a Canudos de Antonio Conselheiro e seus seguidores, entretanto, empolgou-se com Moreira Cesar e a sua grande importância naquele momento histórico, tamanha a riqueza do personagem, coletadas em suas pesquisas preliminares. Analisando a história sob o contexto da época, podemos estabelecer maior clareza ao nosso entendimento, refletindo sobre as atitudes dos seus protagonistas. Naquele tempo, os comandantes, durante as batalhas geralmente sangrentas, seguiam para o enfrentamento á frente da tropa, de espada em punho, para dar coragem e moral à tropa. Eram os primeiros a entrar em combate olhando nos olhos do inimigo. Evidentemente tinham que ser duros e exemplares quanto à disciplina de seus comandados.

Hoje é bem diferente, os comandantes ficam à distância segura, instalados em escritórios refrigerados, com o maior conforto, planejando estratégias bélicas. Bombas teleguiadas enviadas ao território inimigo muitas vezes atingem a população civil, crianças e mulheres, são as maiores vítimas. Moreira César teve sua trajetória marcada por expedientes rudes e atitudes radicais, assim como tantos outros líderes os quais usaram os mesmos expedientes, quando trataram de alcançar objetivos de mudar o curso da história. Inquebrantável sustentáculo, naqueles dias incertos do recém instaurado regime Republicano no País, Moreira César, deixou sua marca na história da nossa Nação, a marca de homens que souberam amar a sua Pátria, a marca dos pindamonhangabenses que souberam honrar seus ideais.

Classificação como Distrito Policial

Com a construção da cadeia pública no ano de 1907, o bairro de Moreira César passou a ser classificado como Distrito Policial. Seus primeiros subdelegados foram o capitão Alexandre Mendes, Antonio Alves Moutinho, Ildefonso de França Machado e Olímpio Marcondes Azeredo. A antiga cadeia hoje é ocupada pelo 2º Distrito Policial, da policia civil.

Os primeiros representantes políticos

O primeiro representante político do bairro foi o vereador José Francisco Machado, que faleceu durante o mandato (1946). Muito antes, porém, o Dr. José Monteiro Machado César, filho do fundador, advogado e produtor de café em Moreira César, foi vereador (entre 1873 e 1876) e, posteriormente, presidente da Câmara (1899). Igualmente nascido e criado em Moreira César, seu filho, o médico Dr. Claro César, também se elegeu vereador (1904/1909). Depois foi eleito prefeito por duas vezes, somando os dois mandatos 10 anos, entre os quais foi presidente da Câmara. Durante sua atuação como político, o município obteve conquistas importantes como a instalação do Haras Paulista, Instituto de Zootecnia, Estrada e Ferro Campos do Jordão, a construção dos prédios (os antigos) do Fórum e da cadeia (no local onde atualmente se encontra o pátio da feira, em frente ao mercado municipal). Ajudou a fundar a Escola de Farmácia e Odontologia em 1913, sendo nomeado seu primeiro diretor.

O ilustre homem público, Dr. Claro César, também se destacou como deputado estadual e também no exercício da medicina, na Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba, entidade da qual foi um dos provedores.

Elevação à condição de Distrito

Em 31 de dezembro de 1958, durante a gestão do prefeito Dr. Francisco Romano de Oliveira, o bairro de Moreira César foi elevado à condição de Distrito de Paz, conforme a lei estadual nº 5121 (o governador era Jânio Quadros). Esta lei dispunha sobre o quadro territorial, administrativo e judiciário do Estado de São Paulo no qüinqüênio 1959/1963 e, entre as diversas providências, constava: “O Distrito de Moreira César é criado com sede no povoado de igual nome e com território desmembrado do distrito da sede do município de Pindamonhangaba”.

A instalação oficial do Distrito

Embora elevado à condição de distrito em 1958, somente quatro anos depois, no dia 31 de dezembro de 1962, o prefeito era o professor Manoel César Ribeiro, é que o Distrito de Paz foi oficialmente instalado. O procedimento se deu de acordo com ato do governador Carvalho Pinto. Nessa data tomou posse como subprefeito, Alfredo Augusto Mesquita, que havia sido escolhido pelo povo. Também foi instalado o Cartório de Registro das Pessoas Naturais e Anexos, tomando posse como oficial desse cartório, Wlademir de Melo e Silva.

Da Capela de Santa Cruz à Matriz de São Vicente de Paulo

Segundo antigo moradores no mesmo local onde antigamente se encontrava a capela de Santa Cruz do Barranco Alto foi construída a capela de São Vicente de Paulo. Erigida à paróquia no dia 19 de julho de 1959, sob a administração do bispo diocesano, dom Francisco Borja do Amaral, passou então a ser denominada Igreja Matriz São Vicente de Paulo do Distrito de Moreira César. A idéia da criação da paróquia partiu do Sr. Ananias Ribeiro de Almeida, que formou uma comissão constituída pelos senhores Gabriel Rocco, Octavio Goffi Salgado, José Augusto Mesquita e Oswaldo Marcondes Azeredo, contando também com a colaboração da família Teberga. Foi quando se construiu a casa paroquial para abrigar o pároco residente.

Lendas e crendices

Antes da implantação das linhas regulares de ônibus, a deficiência nos meios de transportes e também nos meios de comunicação, impunha certo isolamento aos moradores de Moreira César. Como ainda não havia televisão, era costume, após o jantar, as famílias formarem rodas de conversa nas calçadas para contar causos, falar sobre amenidades ou fatos corriqueiros. Um assunto freqüente nessas conversas versava sobre o sobrenatural. Havia relatos sobre ataques de lobisomem aos galinheiros, sobre a mula-sem-cabeça entre outros. Contavam também que no antigo caminho que ligava Moreira César ao centro da cidade, cruzava um pequeno córrego, o “córgo seco”, local atualmente conhecido como a valeta do bairro Vale das Acácias. Com freqüência, os meninos iam a esse córrego para brincar e se banhar e, não raramente, voltavam assustados dizendo terem visto o vulto de uma mulher loura vestida de branco perambulando por aquelas redondezas.

Diziam também que numa curva desse mesmo caminho, um pouco mais à frente, existe até hoje uma frondosa árvore chamada “Chico pires”, à qual eram atribuídos nesse tempo, poderes sobrenaturais. As pessoas tinham medo de passar por ela à noite, pois acreditavam que a árvore tinha o hábito de interpelar os passantes e, caso não obtivesse resposta imediata, impunha ao interlocutor duros castigos. Muitos trabalhadores do turno da noite na fábrica de papel de Coruputuba evitavam passar sozinhos pelo local. Os mais antigos acreditavam que um machado jamais haveria de penetrar em seu tronco e aqueles que tentassem tal proeza sofreriam as pesadas conseqüências do ato.

O fato é que o “Chico pires” sobreviveu ao desmatamento de toda a área ao seu redor quando da implantação do reflorestamento com eucalipto e por ocasião da destoca promovida quando esse reflorestamento foi removido. A tal árvore ainda existe, sendo sua espécie catalogada como pithcolombium incuriale ou sucupira do campo ou ainda angico rajado. No alto dos seus 150 anos de existência e seus 20 metros de altura, ela permanece à beira do caminho, cercada por grandes indústrias e empreendimentos imobiliários, como testemunha viva do progresso e desenvolvimento de Moreira César. Segundo avaliação dos entendidos, sobrevivendo arduamente às mudanças do meio ambiente e resistindo às agressões como o fogo que quase todos os anos, na época da seca, atinge sua base.

A implantação dos primeiros meios de transportes

Durante décadas, a população foi servida pela ferrovia, pelo trem, então denominado “expressinho” e pelo ônibus tipo “jardineira”, serviço de transporte feito pelos irmãos Valentini. A partir da construção da avenida Dr. José Monteiro Machado César, (que liga o centro de Moreira César à via Dutra), e com o alargamento da ligação entre o centro e a antiga São Paulo/Rio, pelo engenheiro José Adhemar César Ribeiro, em 1958 (avenida esta que hoje leva seu nome), estabeleceu-se, em 1959, a primeira linha regular de ônibus pela empresa Pássaro Marron.

A construção da Subprefeitura

O prédio da Subprefeitura foi inaugurado em 1968, durante a gestão do prefeito Dr. Francisco Romano de Oliveira. O terreno para a sua construção foi doado pelo antigo morador no distrito, Octávio Goffi Salgado. Ampliada e reformada diversas vezes, a Subprefeitura de Moreira César representa o braço da municipalidade no distrito. Brevemente (em nova ampliação), será inaugurada uma moderna sala de atendimento ao público. A esta sala serão estendidos todos os serviços burocráticos municipais, visando facilitar para os moradores que não terão que se locomover até o centro da cidade para resolver assuntos e pendências dessa ordem.

O declínio do café e o ciclo industrial

Depois do declínio do café, ali pelos anos 20, a produção agrícola do distrito se diversificou entre a pecuária leiteira, a produção de farinha de mandioca (nos anos 20 ali se estabeleceu uma importante fábrica de fécula da Companhia Matarazzo), produção de arroz e hortifrutigranjeiros, sendo estas atividades a base da economia da região.

A vocação do distrito para a industrialização foi marcada pelo surgimento da Companhia Agrícola e Industrial “Cícero Prado, na fazenda Coruputuba. A fábrica de papel de Cícero Prado chegou a ser considerada a maior da América Latina. No local, até hoje funciona, com outra denominação e proprietários, indústria especializada na produção de papel e celulose de alta qualidade.

No final dos anos 60, impulsionado pela política de interiorização do desenvolvimento, a industrialização tomou novo alento, ocorrendo a instalação de grandes complexos industriais, tendência que segue em um ritmo constante, com a instalação de novas e modernas empresas.

Infraestrutura

A atração de novas empresas para o distrito acontece devido a vários fatores importantes que a região oferece: relevo plano aliado à existência de grandes áreas disponíveis; localização privilegiada; logística extremamente favorável; boa infra-estrutura urbana e ampla rede de ensino técnico. A energia necessária para a instalação de empresas é garantida pela rede elétrica de alta tensão e pela rede de gás industrial. Mananciais que descem das encostas das serras, assim como o rio Paraíba, se constituem em fontes fartas de fornecimento de água. O núcleo urbano, concebido com loteamentos projetados com conceitos arquitetônicos modernos dispõem de grandes áreas verdes entre traçados arrojados, conferindo à urbe um aspecto moderno, dinâmico e progressista;

Vias e acessos

Moreira César possui uma boa rede rodoviária para movimentação de cargas e transportes. É servida pela via Dutra, pela SP-62, que no trecho Moreira César/centro foi recentemente duplicada, transformando-se na maior avenida do município, quer no comprimento quer pela largura, proporcionando segurança aos transeuntes, além de se constituir num novo indutor de desenvolvimento.

Conta também com a ferrovia que corta o município de Pindamonhangaba, desde 1996 explorada pela MRS Logística, concessionária que controla, opera e monitora a Malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal, tendo entre suas atividades o transporte ferroviário de cargas gerais, como minérios, cimento, produtos siderúrgicos, agrícolas, contêineres etc.

Moreira César, dezembro de 2.007.

Fontes
-Os Sertões – Euclides da Cunha
-O Treme Terra – Oleone Coelho Fontes
– Pindamonhangaba – Tempo & Face, de Waldomiro Benedito de Abreu (Editora Santuário, Aparecida-SP, 1977);
– Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, de Athayde Marcondes (Tipografia Paulista, São Paulo-SP, 1922);
– Pindamonhangaba no Século XIX – Cafezais, Servidão e Nobreza, de Fábio Schmidt Goffi (Gráfica Portinho Cavalcanti, Rio de Janeiro-RJ, 1994);
– Retrato da Princesa do Norte, de Rômulo Campos D’Arace (Editora Piratininga, São Paulo-SP, 1954);
– Livro Tombo da Igreja Matriz São Vicente de Paulo, do Distrito de Moreira César.
– Jornal Tribuna do Norte (Editoria de História, de Altair Fernandes);
– Subprefeitura do Distrito de Moreira César, subprefeito Carlos José Ribeiro – Carlinhos Casé

RESUMO HISTÓRICO

Não se sabe exatamente quando o local, uma simples paragem, passou a ser chamado de PINDAMONHANGABA, nome indígena que significa “lugar onde se fazem anzóis”. Data do final do século XVI a ocupação da área onde hoje se situa Pindamonhangaba. O primeiro morador, que ganhou terras no local e implantou sítio com ranchos e pastaria, foi João do Prado Martins, em 1643.

A “paragem” estava fadada a se desenvolver rapidamente, já que suas terras eram excelentes; o clima ameno e sua posição geográfica a tornavam passagem obrigatória dos viajantes que se deslocavam de São Paulo para Minas Gerais através do Vale do Paraíba. Por volta de 1680, Pindamonhangaba já era um povoado, vinculado ao Termo (Município) de Taubaté. Data dessa época a construção do primeiro templo, a capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no lugar onde hoje fica a Praça Padre João de Faria Fialho.

Em 10 de julho de 1705, o povoado recebeu foros de vila, por ato da Rainha Dona Catarina, ficando, portanto, politicamente emancipado de Taubaté. Por isto, o Dez de Julho é a data magna de Pindamonhangaba, que não tem uma data de fundação, mas sim de emancipação. Durante o século XVIII, desenvolveu-se em Pindamonhangaba uma atividade agropastoril, com predominância da cultura de cana-de-açúcar e a produção de açúcar e aguardente, em engenhos.

Durante o período do café no Brasil, a cidade viveu sua fase de maior brilho e se destacou no cenário nacional. O cultivo do café foi iniciado no Município a partir dos anos de 1820. Duas décadas após, Pindamonhangaba se tornou um grande centro cafeeiro, apoiado em suas terras férteis e na mão-de-obra escrava. Nessa época, foram construídos o Palacete 10 de Julho, o Palacete Visconde da Palmeira, o Palacete Tiradentes, a Igreja São José e outros grandes casarões. A Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, construída nos primeiros anos dos 1700, foi remodelada, ganhando sua fachada imponente.

Pindamonhangaba, que ganhou do cronista e poeta Emílio Zaluar o título de “Princesa do Norte”, foi elevada a cidade por lei provincial de 03 de abril de 1849. O ciclo do café extinguiu-se no final da década de 1920, não tendo resistido aos golpes produzidos pela exaustão das terras, a libertação dos escravos e a crise econômica mundial. A partir daí, a economia de Pindamonhangaba passou a se apoiar na constituição de uma importante bacia leiteira, em extensas culturas de arroz e na produção de hortigranjeiros. Foi uma época de pequeno crescimento econômico, que se estendeu até o final da década de 1950, quando o Município entrou no ciclo pré-industrial. O período de 1970 a 1985 foi, para Pindamonhangaba, uma fase de crescimento industrial extremamente acelerado, que mudou, profundamente, a face do Município.

DADOS HISTÓRICOS
TOPÔNIMO : Pindamonhangaba – lugar onde se fabricam anzóis.
FUNDAÇÃO : Não teve uma fundação intencional.
PRIMEIRO MORADOR : João do Prado Martins
EMANCIPAÇÃO: 10 de julho de 1705.